sábado, 18 de maio de 2013

A literatura de Machado de Assis segundo Guerra da Cal : um grande projeto inconcluso

Machado de Assis
Há agora 55 anos, o escritor, filólogo e crítico literário galego Ernesto Guerra da Cal (1911-1994) anunciou pela primeira vez o seu projeto de consagrar um vasto estudo à obra de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), um dos maiores autores das letras brasileiras e um dos grandes vultos da literatura em língua portuguesa de todos os tempos. O anúncio teve uma importante repercussão, porquanto Guerra da Cal gozava na altura de um sólido prestígio intelectual. Seu livro Língua e estilo de Eça de Queirós (1954) contribuíra em grande medida para a revalorização e a difusão internacional da obra do grande romancista português, e encontrara larga acolhida nos meios culturais brasileiros, a começar por Gilberto Freyre: É um livro esse, do professor Da Cal, que nenhum devoto brasileiro do Eça e do
seu estilo, da sua expressão literária, deve deixar de ler
.
Sua obra de criação também foi bem considerada no Brasil. O grande poeta e crítico Manuel Bandeira elogiou o primero poemário de  Guerra da Cal, Lua de Além-Mar (1959). O projeto de dedicar a Machado de Assis um estudo semelhante ao que publicara sobre Eça de Queirós foi assim recebido com muito interesse e divulgado em diferentes meios de comunicação brasileiros, como o Jornal do Brasil, o Diário de Pernambuco, o Diário de Notícias da Bahia e o Jornal de Letras e o Correio da Manhã do Rio de Janeiro, entre outras publicações.

Ernesto Guerra da Cal em 1960
 Ernesto Guerra da Cal residia desde 1939 em Estados Unidos, onde se exilara depois de ter combatido no bando republicano na Guerra Civil Espanhola. Em 1945 adotou a cidadania estadunidense. Durante toda a sua vida foi um firme defensor do reintegracionismo, corrente que vindica a relação histórica e linguística da Galiza com o mundo lusófono. Desenvolveu um intenso labor académico como professor na Universidade de Nova Iorque, preocupando-se especialmente por difundir no âmbito norte-americano e anglófono as culturas e literaturas de expressão portuguesa.  Em agosto de 1959 foi nomeado doutor honoris causa da Universidade da Bahia pelo seu apoio à cultura do Brasil e participou nessa mesma cidade no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Em 1960, pelo mesmo motivo, recebeu a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a Medalha Padre Anchieta e a designação de cidadão de honra da cidade do Rio de Janeiro.


Guerra da Cal recebendo o título de doutor honoris causa na Bahia em 1959
  Guerra da Cal, provavelmente por falta de tempo, nunca pôde levar a termo o seu grande estudo sobre  Machado de Assis. Porém, continuava a acalentar o projeto em 1970, época em que visitou a Universidade Federal do Rio de Janeiro para apresentar uma edição brasileira da sua obra sobre Eça de Queirós. Nessa altura qualificou o estilo machadiano como mais hermético e difícil de analisar e dissecar do que o estilo do romancista português. Em 1981 publicou em Portugal um ensaio sobre o conto de Machado de Assis Missa do Galo, onde afirmou que neste gênero literário ele atingiu a máxima altura nas modernas letras luso-brasileiras -e talvez nas universais.
     Um trabalho publicado em 2004 pelo filólogo, ensaísta e jornalista galego Joel R. Gômez reconstroi a história da relação de Ernesto Guerra da Cal com a cultura brasileira e do seu nunca realizado projeto sobre Machado de Assis. Um outro estudo mais recente, publicado em 2013 na Revista da Universidade Federal de Goiás, aprofunda na longa labuta de Da Cal como defensor e divulgador da cultura e dos interesses do Brasil em Estados Unidos.

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